Conversar com um médico pelo celular. Receber orientações de saúde por mensagem. Ser acolhido por um profissional em um chat — sem precisar sair de casa. Há poucos anos, isso pareceria impensável. Hoje, é rotina para milhões de pessoas no Brasil e no mundo.
O avanço do atendimento médico por chat — seja via aplicativos próprios, plataformas de telemedicina ou até pelo WhatsApp — é um dos fenômenos mais marcantes da transformação digital da saúde. Segundo dados da DataReportal (2024), mais de 96% dos brasileiros usam o WhatsApp, e 83% afirmam preferir resolver questões do dia a dia por mensagem, e não por telefone. Esse comportamento migrou naturalmente para o cuidado com a saúde.
A tendência é global. Relatório da McKinsey & Company mostra que o uso de canais assíncronos (como chats médicos) cresceu 38% no mundo pós-pandemia, enquanto a Accenture aponta que 62% dos pacientes preferem interações digitais com serviços de saúde. O motivo? Praticidade, privacidade, agilidade — e, muitas vezes, menos julgamento.
No Brasil e no mundo, diversos players da saúde já adotaram o modelo:
Hospital Albert Einstein (Brasil): oferece chat médico pelo aplicativo Einstein Conecta, com triagem automatizada e atendimento humanizado por profissionais de saúde.
Hospital Sírio-Libanês (Brasil): através da plataforma de Telemedicina, pacientes têm acesso a orientação médica por mensagens, inclusive para acompanhamento de casos clínicos.
Dasa Saúde (Brasil): por meio do app Nav, permite acesso a médicos 24 horas via chat, com histórico integrado de exames e orientações personalizadas.
Amil (Brasil): o app Amil Clientes inclui chat com profissionais de saúde para dúvidas e orientações, principalmente para clientes dos planos One e Fácil.
Kaiser Permanente (EUA): uma das maiores redes integradas de saúde dos Estados Unidos, a Kaiser oferece atendimento médico por chat 24h via seu aplicativo e portal, com histórico clínico conectado a todos os níveis de cuidado.
Babylon Health (Reino Unido): pioneira em consultas por IA e chat médico, a Babylon atende milhões de pacientes no Reino Unido e outros países, com foco em triagem digital, consultas por chat e suporte clínico remoto em larga escala.
Teladoc Health (EUA): uma das maiores plataformas de telemedicina do mundo, permite atendimento por chat com médicos de diferentes especialidades, com operação em mais de 130 países e foco em saúde populacional e acompanhamento de doenças crônicas.
Blis (Brasil): plataforma especializada em cannabis medicinal, pioneira no uso de chat médico para orientação, prescrição legal e acompanhamento remoto. Através do app, pacientes têm acesso a atendimento clínico por mensagem, o que permite alcançar regiões com baixa cobertura médica tradicional — inclusive em cidades onde não há médicos especializados no tema.
Mas apesar da popularidade, esse modelo ainda divide opiniões.
De um lado, há especialistas que defendem que o atendimento por chat aumenta o alcance da saúde, rompe barreiras geográficas e permite uma atenção mais contínua, especialmente em casos crônicos ou que exigem monitoramento. De outro, críticos alertam para o risco de desumanização do cuidado e para a necessidade de critérios técnicos rigorosos na triagem e orientação dos pacientes.
No Brasil, o desafio da conectividade também entra nessa equação. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda existem mais de 4.500 municípios com cobertura 3G ou 4G instável, o que limita o acesso a videoconferências e chamadas ao vivo. Nessas regiões, o atendimento por chat se torna não apenas uma alternativa viável — mas a única possível. Por consumir menos banda, permitir respostas em horários diferentes e funcionar mesmo em conexões limitadas, o chat amplia o acesso a quem vive em comunidades rurais, periferias urbanas e regiões isoladas.
Além disso, o Brasil tem mais de 242 milhões de celulares ativos, segundo a Anatel, o que supera a população do país. Em contraste, o acesso pleno à saúde pública ainda é restrito em muitas localidades. Nesse contexto, o celular com internet limitada, combinado ao atendimento assíncrono por chat, é a ponte entre o paciente e o cuidado — onde quer que ele esteja.
O uso da telemedicina — incluindo o chat médico — é regulamentado pela Lei nº 13.989/2020 e pela Resolução CFM nº 2.314/2022, que garantem validade legal às consultas realizadas por meios digitais, desde que haja responsabilidade profissional, prontuário registrado e prescrição controlada.
A verdade é que, em um país com dimensões continentais e desigualdades históricas de acesso à saúde, o atendimento por chat se torna uma das ferramentas mais importantes de inclusão. Ele leva informação, acolhimento e cuidado a pessoas que antes ficavam de fora do sistema. Não substitui o médico de família, mas aproxima o cuidado de quem nunca teve um.
Gostando ou não, o futuro já chegou. E ele escreve de volta.
Toninho Correa
Founder & CEO Blis